CASA DO PATRIMÔNIO
Casas do Patrimônio
As Casas do Patrimônio constituem-se
de um projeto pedagógico, com ações de educação patrimonial e de capacitação
que visam fomentar e favorecer a construção do conhecimento e a participação
social para o aperfeiçoamento da gestão, proteção, salvaguarda, valorização e
usufruto do patrimônio cultural. Fundamentam-se, ainda, na necessidade de
estabelecer novas formas de relacionamento entre o Iphan, a sociedade e os
poderes públicos locais.
Um dos seus objetivos é interligar
experiências e espaços que promovam práticas e atividades de natureza educativa
de valorização do patrimônio cultural. Não restritas à instalação de uma
estrutura física, as Casas do Patrimônio têm como desafio ampliar o diálogo com
a sociedade a partir da educação patrimonial, multiplicando locais de gestão
compartilhada de ações educativas e de construção das políticas públicas de
patrimônio cultural.
Esse é o primeiro passo para
transformar as sedes do Iphan e instituições parceiras em polos de referência
sobre o patrimônio cultural, fomentando a criação de novas práticas de
preservação, sobretudo por meio de ações educacionais formais e não formais, em
parceria com escolas, agentes culturais, instituições educativas não formais,
coletivos, grupos e demais segmentos sociais e econômicos.
Histórico - O Projeto Casas do Patrimônio
integra-se à construção de um marco institucional para o Iphan, resultado de
debates institucionais debatido internamente a partir do ano de 2007. O
resultado das discussões veio a público na Oficina para Capacitação em Educação
Patrimonial e Fomento a Projetos Culturais nas Casas do Patrimônio, ocorrida em
Pirenópolis (GO), em 2008, em que as diretrizes gerais foram debatidas e
consolidadas. No ano seguinte, ocorreu o 1º Seminário de Avaliação e
Planejamento das Casas do Patrimônio, em Nova Olinda (CE), resultando na
formulação da Carta de Nova Olinda.
O Projeto Casas do Patrimônio é a principal iniciativa nesse sentido.
As principais diretrizes que devem nortear as ações de Educação
Patrimonial decorrem de um longo processo de debates institucionais, aprofundamentos teóricos e avaliações das práticas
educativas voltadas à preservação do patrimônio cultural.
Ao mesmo tempo, são amparadas em uma série de premissas conceituais:
·
As
comunidades devem ser participantes efetivas das ações educativas;
·
Os
bens culturais estão inseridos nos espaços de vida das pessoas;
·
A
Educação Patrimonial é um processo de mediação;
·
O
patrimônio cultural é um campo de conflito;
·
Os
territórios são espaços educativos;
·
As
ações educativas devem levar em conta a intersetorialidade das políticas
públicas;
·
E
é necessária uma abordagem transversal e dialógica da educação patrimonial.
Casas do Patrimônio
Em 01 de dezembro de 2009.
Reunidos na Fundação Casa Grande – Casa do Patrimônio
da Chapada do Araripe – entre os dias 27 de novembro e
01 de dezembro de 2009, os participantes do I Seminário de
Avaliação e Planejamento das Casas do Patrimônio tornam
público o documento final deste encontro.
O objetivo do encontro foi avaliar a atuação das primeiras
Casas do Patrimônio,hoje implantadas, e elaborar diretrizes
comuns para o seu funcionamento, como também propor
ao Iphan a criação de instrumentos legais e administrativos
que garantam a sustentabilidade da proposta. Estavam
presentes no encontro representantes e colaboradores do
Iphan e das seguintes Casas do Patrimônio, implantadas
durante o ano de 2009:Centro de Referência do Samba de
Roda em Santo Amaro, Bahia; Casa da Baronesa, Ouro Preto,
Minas Gerais; Casa do Patrimônio de Iguape, São Paulo,
Casa do Patrimônio da Chapada do Araripe, Nova Olinda,
Ceará; Casa do Patrimônio de João Pessoa, Paraíba, Casa do
Patrimônio de Recife, Pernambuco.
Vale dizer que esse documento representa a culminância
de um conjunto de investimentos que a área de Promoção
do Patrimônio Cultural Brasileiro, do Iphan, vem fazendo
desde o ano 2000, no sentido de estruturar e consolidar um
CARTA DE NOVA OLINDA
Casas do Patrimônio
Carta de Nova Olinda - Casas do Patrimônio 2
campo de trabalho para as ações educativas voltadas para
o conhecimento e a preservação do patrimônio cultural
brasileiro. Nesse processo, é preciso reconhecer as inúmeras
iniciativas de educação patrimonial implementadas pelas
Superintendências e instituições ligadas ao Iphan e por
diferentes organizações da sociedade civil.
Tais experiências e iniciativas alimentaram a reflexão e a
construção coletiva, que se traduziram em documentos e
propostas consolidados a partir dos eventos promovidos pela
Coordenação de Educação Patrimonial, dos quais merecem
destaque:
• a Reunião Técnica realizada em Pirenópolis, Goiás, em
2004, reunindo todas as Superintendências do Iphan,
considerada o marco institucional no sentido de tentar
organizar e estabelecer uma ação coordenada no
campo de ações de educação patrimonial;
• o 1º Encontro Nacional de Educação Patrimonial (I
ENEP), realizado em São Cristóvão, Sergipe, em 2005,
onde se buscou discutir e propor parâmetros nacionais
para ações de Educação Patrimonial desenvolvidas nas
escolas, nos museus e na sociedade civil;
• os diversos cursos sobre Educação e Patrimônio Cultural
organizados por diferentes universidades do país; e,
por fim,
• a Oficina para Capacitação em Educação Patrimonial e
Fomento a projetos culturais nas Casas do Patrimônio,
realizada em 2008, em Pirenópolis, que resultou na
elaboração de diretrizes para a atuação das Casas do
Patrimônio.
Carta de Nova Olinda - Casas do Patrimônio 3
Considerando que,
1. a proposta das Casas do Patrimônio se fundamenta
na necessidade de estabelecer novas formas de
relacionamento entre o Iphan, a sociedade e os poderes
públicos locais, pois, além de informar e dialogar sobre
as atividades e rotinas administrativas da instituição,
buscará investir em ações de qualificação e capacitação
de agentes públicos e privados e de promoção
do patrimônio cultural como um dos pilares do
desenvolvimento sustentável, capaz de gerar renda e
de atuar a partir de noções ampliadas de patrimônio;
2. as ações educativas a serem implementadas nas Casas
do Patrimônio e por ela empreendidas se estruturam
a partir de diferentes perspectivas e abordagens e
em cujas ações de preservação convivem noções de
patrimônio, que ao mesmo tempo se confrontam e se
complementam, pois estão associadas a um patrimônio
considerado nacional e um patrimônio caracterizado
como simbólico e identitário; um patrimônio herdado
e um patrimônio reivindicado; um patrimônio material
e um patrimônio imaterial; um patrimônio ligado ao
Estado e um patrimônio social, étnico ou comunitário;
3. para a multiplicação do entendimento desse conceito
é essencial, no Sistema Nacional de Patrimônio, a
utilização de noções ampliadas de patrimônio, de
museologia social e crítica, de educação dialógica, e de
arte e cultura;
4. ainda que para isso, faz-se necessária a construção
coletiva de um novo protagonismo, entre instituições
governamentais e não-governamentais, priorizando a
formulação de diretrizes básicas de ações educativas,
Carta de Nova Olinda - Casas do Patrimônio 4
que permitirão ao Iphan mediá-las junto à sociedade,
resultando na construção de uma noção compartilhada
de Patrimônio Cultural que facilite abordá-lo em sua
diversidade;
Os participantes do seminário pactuaram a construção da
rede das Casas do Patrimônio e, em co-responsabilidade,
adotar o seguinte conceito e o conjunto de premissas básicas,
objetivos e recomendações:
Conceito
A casa do Patrimônio tem por objetivo constituir-se como um
espaço de interlocução com a comunidade local, de articulação
institucional e de promoção de ações educativas, visando
fomentar e favorecer a construção do conhecimento e a
participação social para o aperfeiçoamento da gestão, proteção,
salvaguarda, valorização e usufruto do patrimônio cultural.
PREMISSAS BÁSICAS
• Garantir um espaço para colaboração de saberes e
difusão do conhecimento;
• Realização, promoção e fomento das ações educativas e a
articulação das áreas de patrimônio cultural, meio ambiente
e turismo dentre outros campos da ação pública;
• Manutenção e disponibilização das informações e
acervos sobre o patrimônio para acesso da população;
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• Estímulo a participação da população na gestão da
proteção, salvaguarda, valorização e usufruto do
patrimônio cultural;
• Promoção permanente de oficinas, cursos e outros
eventos voltados à socialização de conhecimentos e à
qualificação de profissionais para atuar na área;
• Fomentar e fortalecer a atuação em redes sociais de
cooperação institucional e com a comunidade;
• Fomentar o reconhecimento da importância da
preservação do patrimônio cultural.
OBJETIVOS
• Criar canais de interlocução com a sociedade e com os
setores públicos responsáveis pelo patrimônio;
• Identificar e fortalecer os vínculos das comunidades
com o seu patrimônio cultural;
• Incentivar a participação social na gestão e proteção
dos bens culturais;
• Incentivar a associação das políticas de patrimônio
cultural ao desenvolvimento social e econômico;
• Aperfeiçoar as ações focadas nas expressões culturais
locais e territoriais, contribuindo para a construção
de mecanismos de apoio junto às comunidades, aos
profissionais e gestores da área, às associações civis,
às entidades de classe, às instituições de ensino e aos
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setores públicos, para uma melhor compreensão das
realidades locais;
• Fomentar a apropriação, manutenção e valorização da
identidade e dos aspectos históricos, culturais, artísticos
e naturais locais, territoriais, regionais, nacionais, e
internacionais, em prol do desenvolvimento sustentável
e da melhoria da qualidade de vida.
ESTRATÉGIAS
• Mapeamento dos investimentos e políticas de fomento
consonantes com as noções ampliadas de patrimônio,
museologia social, educação dialógica, arte e cultura
no Sistema Nacional de Patrimônio;
• Educação patrimonial como tema transversal e
interdisciplinar;
• Elaboração de regimento próprio para cada Casa do
Patrimônio;
• Plano de trabalho continuado;
• Articulação e aglutinação de ações educativas junto à
comunidade;
• Elaboração de plano de comunicação nacional, estadual
e municipal para as Casas do Patrimônio;
• Envolvimento das instituições educacionais formais e
informais nos processos de educação patrimonial;
Carta de Nova Olinda - Casas do Patrimônio 7
• Envolvimento de artistas, agentes e instituições culturais
nos processos de educação patrimonial;
• Garantia da manutenção do conceito gerador para
o fortalecimento da identidade do projeto Casas do
Patrimônio;
• Garantir a autonomia de gestão local;
• Promover ações de sensibilização e aproximação para
estimular o protagonismo dos atores sociais;
• Articulação da rede das Casas do Patrimônio com as
redes já estabelecidas, tanto pelo Ministério da Cultura
quanto pelos demais parceiros a serem mapeados;
• Articulação com instituições de ensino e pesquisa,
a partir de programas de colaboração técnica e
convênios;
• Adoção de modelos de gestão do patrimônio cultural
que tenham como perspectiva uma proposta de
colaboração de saberes;
• Estimular estados e municípios para a criação de
instrumentos legais que garantam suas participações
continuadas nas Casas do Patrimônio;
• Construção de uma rede integrada das casas do
patrimônio e de instrumentos de operacionalização e
manutenção, tais como:
FORMAÇAO DA REDE DAS CASAS DO PATRIMÔNIO
• Criação do portal virtual integrado das Casas do Patrimônio;
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• Visitas/missões técnicas periódicas entre Casas do
Patrimônio para troca de experiências, incluindo
estágios e residências criativas para colaboração de
saberes;
• Circulação de informações,produtos editoriais e
exposições;
• Fórum permanente de debate com encontros presenciais
periódicos;
• Seminário nacional, de periodicidade anual, para
avaliação das Casas do Patrimônio;
• Criação de banco de ações referenciais em educação
patrimonial;
ASPECTOS ESTRUTURAIS
• Criação do Programa Nacional de Educação Patrimonial;
• Definição de instrumentos jurídicos e normativos para
as Casas do Patrimônio;
• Criação de Conselhos Gestores e ou Consultivos
formados por parceiros comprometidos com a gestão e
manutenção da casa;
• Identificação de parceiros potenciais;
• Criação do sistema de planejamento, de monitoramento
e avaliação da rede e das Casas do Patrimônio;
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• Adoção de modelo de gestão participativa com o
funcionamento sistêmico de instâncias e espaços de
reflexão e avaliação;
• Garantir a presença do Iphan na implantação e
funcionamento das Casas do Patrimônio;
ASPECTOS OPERACIONAIS
• Formação de equipe de gestão;
• Definição de garantias de orçamento de quadro de
pessoal e da responsabilidade dos entes parceiros na
sua manutenção;
• Qualificação continuada do quadro pessoal da Casa do
Patrimônio;
• Elaboração de cronograma de atividades em
consonância com o planejamento estratégico construído
de forma compartilhada entre os parceiros da Casa do
Patrimônio.
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RECOMENDAÇÕES AO IPHAN
• Estabelecer como princípio que a ação educativa seja
componente de todas as ações institucionais de gestão
do patrimônio com previsão de recursos específicos;
• Formulação do planejamento plurianual compartilhado
da com a rede das Casas do Patrimônio ;
• Orientação para que percentual de recursos
referentes à educação patrimonial relativas a pesquisas
arqueológicas outorgadas pelo Iphan seja destinado às
ações educativas das Casas do Patrimônio;
• Articulações para que haja a vinculação orçamentária
ao FNC com a perspectiva de ser incorporado ao Fundo
Setorial do Patrimônio cultural;
• Definição de modelo de gestão por meio de Termo
de Compromisso ou Contrato de gestão (DAF Iphan/
Unidades / Parceiros);
• Criação de um edital anual de fomento das ações
educativas, acompanhadas de pesquisa e divulgação,
das Casas do Patrimônio.
• Estruturação e/ou aquisição de espaço físico próprio para
as Casas do Patrimônio, preferencialmente integrados
às atividades institucionais;
• Qualificação do corpo técnico e administrativo do Iphan
para atuação junto às Casas do Patrimônio.
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Assinam:
• Aguinaldo Ribeiro de Carvalho – Casa do Patrimônio de Iguape/SP
• Alexandra Virginia Mota – Museu de Arte Contemporânea – UFF/RJ
• Átila Bezerra Tolentino - Gestor Iphan/PB
• Carina Mendes dos Santos Melo - Arquiteta da Superintendência do
Iphan/SP
• Carlos Alberto Pereira Junior – Secretário Municipal de Cultura –
Iguape/SP
• Célia Perdigão – Iphan/CE
• Celmar Ataídes Junior – Diretor da TV da Universidade Federal de
Ouro Preto/MG
• Claudia Itaboraí Ferraz – Psicóloga da Prefeitura Municipal de Ouro
Preto/MG
• Elizabete Vicari – Laboep – Universidade Federal Fluminense/RJ
• Evelina Grumberg – Museu da Abolição – Recife/PE
• Fernanda Rocha – Prefeitura Municipal de João Pessoa/PB
• Francisco Allemberg – Presidente da Fundação Casa Grande/CE
• Frederico Faria Neves Almeida - Superintendente do Iphan/PE
• Guilherme Carvalho da Silva – Centro Nacional de Arqueologia - Iphan
• Ítala Byanca M. da Silva – Iphan/CE
• Ivarnice Gomes Wolf – Iphan/ BA
• José Clodovel de Arruda Coelho Neto - Superintendente do Iphan/CE
• Josélia de Almeida Martins - Secretaria Municipal de Educação de
João Pessoa/PB
• Josilane Maria do Nascimento Aires – Coordenadoria do Patrimônio
Cultural de João Pessoa/PB
• Juca Villaschi - Chefe do Departamento de Turismo da UFOP – Ouro
Preto/ MG
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